Homens que fazem sexo com outros homens e não são homossexuais. É mais habitual do que se pode imaginar. Mas o que leva alguns homens a essas práticas? E por que é incorreto catalogá-los como gays?
Hoje em dia, a aceitação da diversidade sexual é muito maior do que no passado. Os conceitos como heteroflexível ou heterocurioso estão permitindo aos homens explorar sua sexualidade sem a necessidade de questionar sua identidade como heterossexuais. Por outro lado, a Internet facilita o contato, que pode ser virtual ou físico. Os especialistas acham isso a coisa mais natural do mundo, pois partem da premissa de que uma coisa é a orientação sexual de um indivíduo, e outra as práticas que ele realiza.
A orientação sexual é construída socialmente, forçosamente, pois alguém precisa se encaixar em alguma das três classificações, heterossexual, homossexual ou bissexual. Por outro lado, a prática sexual é mais flexível e mais livre, é um conceito descritivo, onde um espaço tremendamente saudável na exploração do desejo se abre quando a pessoa se liberta da identificação com uma orientação sexual.
Na Roma antiga, não era raro que um homem comprometido com uma mulher mantivesse um amante. Por não falar do que acontecia nos bacanais. E jovens de todas as épocas recorreram a passatempos com uma conotação sexual difusa. Na adolescência é bastante comum que haja jogos de certa forma associados aos genitais como, ver quem urina mais longe, ver quem tem o pênis maior, e existem toques.
Em 2006, um estudo sobre a discordância entre comportamento sexual e identidade sexual realizado por pesquisadores da Universidade de Nova York revelou que 131 homens, de um total de 2.898 entrevistados, admitiram ter relações com homens apesar de se definirem como heterossexuais. Pelos cálculos dos especialistas, esse grupo representa 3,5% da população. Há anos, os médicos empregam a sigla HSH para se referir ao conjunto dos homens (héteros ou gays) que fazem sexo com outros homens. Mas, recentemente, aflorou outro acrônimo mais preciso para definir esse grupo: SMSM (“straight men who have sex with other men”, ou homens heterossexuais que fazem sexo com outros homens). Sites como o Straightguise.com se dedicam ao tema.
Em julho, saiu os EUA o livro Not Gay: Sex Between White Straight Men (“Não gay: sexo entre homens brancos heterossexuais”), em que a professora Jane Ward, da Universidade da Califórnia, fazia a seguinte colocação: uma garota hétero pode beijar outra garota, pode gostar disso, e mesmo assim continua sendo considerada hétero; seu namorado pode inclusive estimulá-la a isso. Mas e os rapazes? Eles podem experimentar essa fluidez sexual? Ou beijar outro garoto significa que são gays? A autora acredita que estamos diante de um novo modelo de heterossexualidade que não se define como o oposto ou a ausência da homossexualidade. A educação dos homens tem sido bastante homofóbica. Fizeram-nos acreditar que é antinatural ter esses impulsos por outros homens.
Ceder para esses impulsos podem vir de várias razões. Do explorador sexual que gosta de provar coisas novas, do narcisista que gosta que prestem atenção nele, por falta de alternativa por estar privado do contato com mulheres por períodos prolongados, ou do desencanto com as mulheres depois de alguns rompimentos conjugais. O fato é que acontece uma espécie de regressão, volta-se a um estágio anterior no qual os homens se sentiam bem juntos, como na adolescência. Em muitos casos é uma necessidade mais afetiva do que realmente sexual.
Nos homens há muita tendência à genitalização. Entre a cabeça e os genitais há o coração, que representa os sentimentos, e os intestinos, que simbolizam os comportamentos mais viscerais e as emoções mais intensas, mas é como se os homens tivessem aprendido a fazer um desvio passando da cabeça diretamente para os genitais, sem viver plenamente as emoções. No caso das mulheres, por tanta repressão da sua sexualidade e por medo da gravidez, acontece o contrário: elas têm muita dificuldade de genitalizar. Para um homem às vezes é mais fácil fazer isso do que expressar emoções mais sutis ou dizer a outro homem: É que me sinto inseguro, tenho medo, sinto-me frágil, não sei o que quero.
Alguns desses neo-heterossexuais não se atrevem a viver uma experiência porque isso ameaça o seu status e sua imagem. Diante do conflito, para suprir a necessidade do contato com outro homem ou para reforçar sua masculinidade, integram-se a atividades tipicamente masculinas (futebol, musculação).
Os psicólogos são unânimes em dizer que quando essas experiências não provocam um conflito no indivíduo, se não estão incomodados, não há nada para tratar.
(http://brasil.elpais.com/brasil/2015/08/24/sociedad/1440425476_656178.html).
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